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cARTA ABERTA

São Paulo, 5 de outubro de 2016.

 

Carta aberta à prefeitura de São Paulo,

 

      Escrevo esta com o intuito de denunciar as mais diversas discrepâncias presentes e observadas no bairro da Barra Funda, basicamente, quanto aos âmbitos mais essenciais e deficientes da vida pública, a fim de dar voz aos cidadãos ignorados por governantes desinteressados e prioridades governamentais divergentes às, de fato, necessárias.

 

SEGURANÇA PÚBLICA e MOBILIDADE URBANA

      A região da Barra Funda era originalmente fabril e habitada por colonos italianos, tendo expansão inicial no final do século XIX. Durante as construções, naquele contexto de ascensão comercial e industrial, as residências não foram projetadas a fim de comportarem garagem, tampouco veículos. A mesma situação aplica-se às vias públicas, que não possuem muitas vezes largura suficiente para comportar o tráfego crescente.

      Outrossim, para agravar ainda mais, há propostas municipais públicas futuras de desestímulo ao uso da ciclovia e da abertura integral do complexo do Minhocão. Tais propostas são inviáveis, uma vez que favoreceriam o uso de automóveis, uma prática não dialogável com a insustentável situação atual de uma frota de 11 milhões de carros nas ruas.

      O problema do crescimento populacional e o aumento do uso de automóveis, a impossibilidade de estacionamento doméstico aliados ao estímulo ao uso de carros configuram uma impraticabilidade pública. Deste modo, há uma evidente incompatibilidade e incongruência entre contextos históricos distintos e uma inegável necessidade de mudanças e do olhar público, que se demonstra desinteressado com os anseios da população.

      A segurança pública no bairro da Barra Funda também deve ser ressaltada. No período da construção das residências do bairro, os índices de criminalidade na região eram muito baixos, portanto, não se visava proteção e segurança demasiadamente. No entanto, os dados atuais refletem que o tráfico de drogas, roubos a mão armada e furtos predominam na região, sendo favorecidos por uma iluminação insatisfatória em viadutos, ruas e pontos de ônibus.

      Sendo assim, a criminalidade acarreta no almejo da segurança pública, que assume caráter essencial na vida dos moradores e comerciantes e também nas mais diversas adaptações nas casas, como a implantação de portões de madeira mais fechados, aumento no número de trancas e cadeados, entre outras mudanças.

      De acordo com os fatores apresentados, a segurança pública apresenta-se defasada em uma carência gritante de medidas públicas como o aumento da frequência de patrulhas, implantação de unidades de segurança móvel, melhoria brutal da iluminação das vias públicas – que sequer são citadas em planos de campanha – e adoção de um sistema eficaz de recuperação de dependentes químicos.

 

LIXO URBANO

      A problemática do lixo urbano no bairro é visível, sendo possível a observação da carência de uma maior frequência na coleta de lixo. Segundo a LOGA (Logística Ambiental de São Paulo), o sistema responsável pelo processamento do lixo urbano na região é a coleta domiciliar, que consiste num sistema de recolhimento de resíduos residenciais, comerciais e industriais na qual a logística é definida a partir da divisão em setores de toda a área atendida. Tal divisão ocorre a partir da distinção entre resíduos sólidos industriais não-perigosos; restos de mobília domiciliar; resíduos sólidos domiciliares; resíduos oriundos de mercados e feiras livres.

      Ainda segundo a empresa, apesar da aquisição e implantação de 11 novos caminhões de coleta domiciliar e seletiva em 2014 pela prefeitura, ainda é possível flagrar lixo exposto nas ruas do bairro, muitas vezes prejudicando até mesmo o fluxo local de veículos e pedestres.

      À vista disso, a prefeitura deveria tomar medidas visando o aumento da frequência da coleta do lixo junto ao desenvolvimento de sistemas de processamento mais eficientes, acarretando em um bairro mais limpo, higiênico e uma população mais contente com sua situação.

 

SANEAMENTO E ESGOTAMENTO

      Assim como outros bairros das Zonas Norte e Oeste, a Barra Funda situa-se em uma região de várzea, isto é, terrenos cultiváveis junto aos rios e ribeirões. Bairros como Lapa, Barra Funda e Pirituba, com expansão próxima à Bacia do Tietê, estão na constante iminência de alagamentos. Tal problemática é agravada com a insuficiência das bocas-de-lobo, orifícios que permitem o escoamento da água.

      Mesmo com trabalhos para conter inundações no Córrego Pinheirinho, realizados pela prefeitura, por meio da Secretaria de Obras, periodicamente há o transbordamento do Tietê e de seus afluentes canalizados, gerando: morte por eletrocussão, afogamento, etc; paralisações frequentes do metrô; prejuízos econômicos aos comerciantes locais e danos na vida dos que dependem do tráfego pela região.

      É evidente que a prefeitura deve priorizar obras como tal, em virtude da urgência quanto ao prejuízo a vidas e à economia local. As obras se dão muito lentamente e, ao ver da população, são inacabáveis. Portanto, técnicas devem ser estudadas e estratégias intensificadas e/ou alteradas, visando melhorias na qualidade de vida da população.

 

 

SAÚDE PÚBLICA 

      Um grave problema ocorrente na esfera regional e estadual também é refletido no bairro da Barra Funda, isto é, a saúde pública. Há uma escassez de profissionais da saúde, fato que acarreta na demora de horas para a realização de uma simples consulta. Segundo moradores, a disposição de materiais básicos também é precária: não há medicamentos como antibióticos e anti-inflamatórios, essenciais para tratamentos simples, tampouco gazes e bandagens, cruciais para a realização de curativos.

      Tal situação, infelizmente, retrata a crise econômica ocorrente no Brasil. Contudo, não é aceitável nem digno a população submeter-se a tais circunstâncias. Estratégias devem ser estudadas por especialistas e uma atenção urgente especial deve ser dada pela prefeitura a esse âmbito.

 

CALÇAMENTO E MOBILIDADE

      Os moradores da região frequentemente queixam-se quanto à situação do calçamento da região. As calçadas encontram-se esburacadas, rachadas, de modo a tornarem-se um empecilho na vida daqueles que dependem da caminhada no cotidiano. Além disso, tais falhas assumem caráter ainda mais grave para os cidadãos mais idosos, que são os mais afetados e suas reivindicações esquecidas e ignoradas.

      O calçamento junto à iluminação pública ao ver geral é um aspecto simples, todavia, é predominantemente esquecido pela prefeitura.

 

ACESSIBILIDADE

      Alguns trechos de calçamentos foram observados com adaptações destinadas a deficientes físicos e cadeirantes. Mas, a prevalência da parcela de calçamento não-adaptado à cadeira de rodas, além da ausência integral de medidas referentes a deficientes auditivos e visuais, reflete o quão essa parcela da população é ignorada e esquecida.

      Deste modo, a prefeitura deve atender as necessidades da população deficiente, que sofre constantemente com a desigualdade presente na sociedade, desde aspectos simples como o calçamento e adaptações rotineiras até a dificuldade de conseguir um emprego.

 

FIAÇÃO ELÉTRICA

      Ainda foram observados em vários trechos, parte da fiação inteira ou parcialmente caídas no chão, podendo causar acidentes bastante graves, inclusive podendo levar a morte. Além disso, ressalta-se a frequência de alagamentos na região, que aliada à fiação elétrica precária pode causar danos irreparáveis.

 

MORADIA

      Nas vias públicas da região residem muitos moradores de rua, que automaticamente são ignorados na visão geral, reforçando ainda mais a marginalização social tão presente na sociedade. Porém, tal parcela da população é tão cidadã quanto à que possuí uma residência.

      A prefeitura não pode ignorar as necessidades e anseios dessa população, que por falta de estímulo e condições básicas acabam a criminalizar-se, agravando mais outros problemas do bairro. Portanto, seria mais viável e cabível permitir algumas condições básicas aos moradores de rua, objetivando a qualidade de vida de todos.

 

CULTURA

      Mário de Andrade foi um poeta, romancista, crítico de artemusicólogo, escritor da renomada obra Macunaíma e residiu em uma casa na região da Barra Funda. Sua casa hoje é tombada e desde 1990 funciona como a Oficina da Palavra, cuja programação é voltada para o teatro e literatura.

      Um centro cultural muito importante situado na região da Barra Funda é o Memorial da América Latina. O Memorial é um convite permanente às manifestações artísticas e científicas latino-americanas, um apelo para que elas façam do conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer a sua obra prima em São Paulo. Funciona como um indicador da crucialidade e riqueza da cultura sul-americana e como o povo latino deve valorizar sua cultura interna.

      O museu desfruta de obras de artistas renomados no mundo inteiro e mesmo assim não tem a divulgação merecida ao respectivo nível e importância para a cultura do continente. O museu e a Casa Mário de Andrade deveriam ser cartões postais e culturais da cidade, ao menos, deveriam ser divulgados suficientemente para que a população possa usufruir da arte, cultura e mensagem latino-americana.

Frequentemente não são diferidos os conceitos da arte do grafite com da depredação da pichação. É possível apreciar quilômetros de grafite na Barra Funda, sejam eles situados abaixo dos viadutos, tal como em muros e paredes nas avenidas. Os cidadãos podem contemplar esta arte contemporânea urbana exprimida por meio de manifestações LGBT, feminista, política, etc.

 

A última gestão municipal de São Paulo apoiou muito a arte do grafite, contudo, muitos vereadores opõem-se a ela. O temor consiste no banimento ou na cassação das autorizações legais dos grafiteiros manifestarem-se  em locais pré-determinados. Tal ação teria caráter incompreensivo e anti-artístico, privando e censurando os artistas e as manifestações contemporâneas urbanas.

 

 

LAZER, CICLOVIA e MINHOCÃO

      Em virtude da grande expansão imobiliária nos últimos anos, são observadas melhorias e investimentos no lazer da região. Muitos idosos elogiam o Parque da Água Branca, no qual podem desfrutar de uma vasta área verde, diversos aparelhos de ginástica, uma área destinada à prática de hipismo, um lago e alguns animais como pássaros e galinhas.

      Segundo os moradores, a prefeitura investiu muito no reflorestamento da região, de modo a ser notado o plantio de árvores nas avenidas e ruas do bairro. Ademais, a área verde do Parque da Água Branca é muito comentada positivamente, muitas vezes sendo ressaltada como uma das melhores partes do bairro.

      Entretanto, um olhar público maior para o lazer da região é pedido por pais de crianças e idosos, que sentem a falta de playgrounds e áreas destinadas ao público infantil, tal como teatros juvenis. Para idosos, são reclamadas mais áreas de ginástica e espaços verde.

       Um assunto muito polêmico na região é a ciclovia. A divergência se dá entre o público discordante da implantação, que é majoritariamente composto por motoristas e idosos, e a maior parte do público que é de acordo com a implantação, inclusive elogiando a atitude da prefeitura, que tem caráter de país desenvolvido.

     Uma possível medida a ser adotada pela prefeitura seria ouvir mais a opinião dos cidadãos, a fim de equilibrar os posicionamentos e tomar medidas buscando agradar e conciliar ao máximo os ideais.

        Outro aspecto relevante é o bloqueio dominical do Elevado Costa e Silva, que tem intuito desestimular o tráfego de veículos e incentivar a prática ciclista e pedestre. Tal conduta revela um olhar positivo e adequado para a cidade. A decisão da abertura integral do Minhocão refletiria em um aumento intenso do trânsito de carros e aumento no número de acidentes.

 

 

EDUCAÇÃO

      Na região, estão muito presentes diversas universidades, tal como o grande centro universitário da Uninove, a Faculdade Oswaldo Cruz e a Unesp, conhecida pela sua excelência no curso de ciências biológicas, como medicina e biologia marinha.

Quanto à educação privada, não há problemas. No entanto, muita deficiência é relatada no âmbito da educação pública. Pais de alunos dizem estarem em uma situação insustentável, na qual greves de professores, falta de materiais, merenda e falta de água são aspectos rotineiros na vida escolar dos estudantes.

      A dúvida presente é quanto ao tempo que a prefeitura irá demorar para tomar medidas para melhorar esse quadro crítico e intolerável. Medidas urgentes precisam ser tomadas.

 

      Muitas lacunas foram observadas nos mais diversos âmbitos urbanos do bairro da Barra Funda, desde o calçamento e iluminação até a saúde pública e educação. O conjunto dessas carências refletem a falha administrativa e o acúmulo de problemas ao longo do tempo presentes na esfera urbana. Contudo, não é ponderável aceitar e deixar a população e os mais diversos públicos sofrerem com as falhas. Portanto, medidas devem ser estudadas, planejadas, de acordo com as mais diversas análises, e devem, efetivamente, serem postas em prática, melhorando a qualidade de vida da população, porque promessas não cumpridas não são eficazes.

Atenciosamente

Alunos do Arquidiocesano

Por:

Gabriel Gutierrez nº8

Gabriel Miranda nº9

Tateki Sakudo nº34

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